Início » Trabalho Digital na China: entrevista com Jack Qiu Interviews Trabalho Digital na China: entrevista com Jack Qiu O trabalho digital não é feito só de engenheiros e designers no Vale do Silício, mas também de trabalho escravo na China. Jack Linchuan Qiu, professor da Escola de Jornalismo e Comunicação da Chinese University of Hong Kong (CUHK) tem se dedicado a pesquisar o trabalho digital na China. Em 2017, publicou o livro Goodbye iSlave: a manifesto for digital abolition. A partir de entrevistas com trabalhadores da Foxconn, Qiu mostra um “protótipo da escravidão no século XXI no contexto da indústria de mídias digitais” como indicativo de um sistema mais amplo, incluindo Appcon e o sistema de produção de gadgets pelo mundo. É o que chama de iSlave. Jack Qiu chega a citar frases da Factory Gossip, revista dos trabalhadores da Foxconn: “Os empregados são como escravos e empregados de palácio. Os gerentes e escravos morrem frequentemente nas mãos de eunucos sem nunca saber o que aconteceu. O caso raro de sobrevivência depende, inteiramente, da boa sorte“. Mas o iSlave também acontece nas formas de servidão voluntária e trabalho gratuito dos inúmeros usuários de mídias sociais. O autor conversou com o DigiLabour. Confira alguns trechos em textos e ouça a entrevista na íntegra em áudio. “É preciso re-historicizar o trabalho digital a partir de uma perspectiva do sul Global. Há uma divisão internacional do trabalho digital“; “Talvez o modelo chinês possa ser melhor como um centro para um desenvolvimento sustentável e pró-trabalho comparado ao Vale do Silício. Mas também é provável que as práticas dos trabalhadores e seus modelos de negócios digitais também possam ser vistos como uma ameaça. Se a China pode se tornar um novo centro ou um novo colonizador, na verdade isso depende, por um lado, da relação externa com os EUA, mas de forma mais central, das relações entre classe dominante e classe trabalhadora na própria China“; “Shenzhen não é apenas um paraíso para o capitalismo digital, mas também um foco de ativismo dos trabalhadores“; “O custo de produção de um smartphone da Tecno é entre 15 e 20 dólares, mas tem todas as funções completas de um smartphone normal e avançado”; “O modelo da China ainda é complexo e internamente contraditório. Enquanto parte das empresas chinesas quer lucrar no mundo todo, a Tecno quer priorizar as necessidades locais. Acho que há potencial para algumas das empresas chinesas se transformarem em forças anticoloniais na área de trabalho digital“; “No leste do Congo, onde os minerais do conflito são extraídos, no norte da China, onde a maioria dos minerais mais raros do mundo foi extraída, vemos esse tipo de trabalho escravo, no sentido clássico, de corpos humanos sendo possuídos, transacionados e descartados”; Trabalho Digital no Sul Global http://localhost/digilabour/wp-content/uploads/2019/03/qiu-trabalho-digital-no-sul-global.mp3 Shenzen, Vale do Silício do Hardware e Tecno http://localhost/digilabour/wp-content/uploads/2019/03/qiu-shenzen-vale-do-silc3adcio-do-hardware-e-tecno.mp3 iSlaves http://localhost/digilabour/wp-content/uploads/2019/03/qiu-islave.mp3 Plataformização e Dataficação do Trabalho na China http://localhost/digilabour/wp-content/uploads/2019/03/qiu-plataformizac3a7c3a3o-e-dataficac3a7c3a3o-do-trabalho-na-china.mp3 Circuitos de Trabalho http://localhost/digilabour/wp-content/uploads/2019/03/qiu-circuito-do-trabalho.mp3 Leia outros textos de Jack Qiu aqui, aqui e aqui. DigiLabour Compartilhar Artigo AnteriorA Invisibilidade do Trabalho de Dados: entrevista com Jérôme Denis Próximo ArtigoOlhar, Imaginário e Circulação de Dados: entrevista com David Beer 27 de março de 2019