Introdução a série de artigos de projeto financiado por Luminate
Jonathan Corpus Ong
Rafael Grohmann
As pesquisas sobre desinformação no Sul Global tendem a replicar com muita frequência certas perspectivas euroamericanas relacionadas a determinismo de tecnologias e plataformas, em que o Facebook, as operações russas ou a Cambridge Analytica são culpados por influenciar eleitores irrefletidos, em algo semelhante aos discursos sobre sequestro eleitoral nas pesquisas de 2016 nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Sugerimos que estudiosos e ativistas do Sul global trabalhem de forma mais estratégica para promover perspectivas a partir do Sul que centralizem suas experiências compartilhadas de censura à mídia, ataques nacionalistas contra princípios de direitos humanos “ocidentais” e economias locais recheadas de indústria da desinformação.
Em vez de importar os fluxos de políticas do Norte para o Sul Global no espaço de desinformação, recomendamos que pesquisadores e atores da sociedade civil construam mais espaços de troca de conhecimento Sul-Sul que nos tragam uma conversa direta, conectando pesquisadores e legisladores nas Filipinas, Brasil, Índia, Tailândia e Nigéria, entre outros. Por exemplo, melhores práticas em monitoramento eleitoral podem ser trocadas entre Filipinas e Brasil.
O DigiLabour está lançando agora uma série de textos sobre desinformação e eleições no Sul Global, em um momento em que o Brasil enfrenta uma das eleições mais importantes das últimas décadas. Esta série faz parte do projeto “Global Democracy Frontliners: Transnational Research Coalition for Tech Accountability and Democratic Innovations Centering Communities in the Margins”, financiado pela Luminate. Vemos esta série de intervenções conectando e comparando pesquisadores e ativistas das Filipinas e do Brasil como uma importante contribuição experimental para esta iniciativa. Se você tiver interesse em contribuir para esta série, entre em contato com o DigiLabour com sua proposta para que nós avaliemos.
Estamos abertos a receber submissões relacionadas, mas não exclusivas, aos seguintes tópicos:
- Legislações nacionais e locais “anti-fake news”
- Análise de mídias locais e ecossistemas de informação e suas vulnerabilidades à desinformação
- Narrativas deterministas em relação a plataformas globais e locais e seus objetivos estratégicos
- Fluxos transnacionais de desinformação
- Autoetnografia de participação em coalizões contra desinformação
- Colaboração ativista, mas também lutas internas e conflitos
- Política de financiamento no espaço contra desinformação
- Quando a desinformação se torna a defesa de um político
- Resultados bem-sucedidos de intervenções de desinformação locais/direcionadas
- Fact checkers como trabalhadores precários
- Retratos etnográficos de “trolls pagos”, fazendas de clique e trabalhadores contratados para produzir e circular desinformação
- Economia política da desinformação
- Documentando ameaças digitais a comunidades locais
- Pontos cegos culturais em relação à moderação de conteúdo e políticas das plataformas
- Plataformas digitais não muito estudados no Sul Global em relação ao tema
Jonathan Corpus Ong é professor de Mídias Digitais Globais na Universidade de Massachusetts – Amherst. Entre 2020 e 2022, ele também é pesquisador do Shorenstein Center for the Technology and Social Change Project da Universidade de Harvard.
Rafael Grohmann é professor de Estudos de Mídia com foco em Estudos Críticos de Plataformas e Dados na Universidade de Toronto.