As experiências que lutam por um novo cenário no trabalho por plataformas são um verdadeiro laboratório, como enfatizamos em livro que está em pré-venda pela editora Boitempo. Realisticamente, como vimos afirmando, elas não devem ser substitutas dos grandes conglomerados, mas podem criar circuitos alternativos de produção e consumo, especialmente em âmbito local.
Você já percebeu a importância de movimentos como cooperativismo de plataforma e dados para o bem comum para a economia de plataformas. Mas eles não têm uma fórmula pronta. O Brasil tem sido terreno fértil para a emergência de tais iniciativas, enquanto arranjos alternativos a tais conglomerados. Conheça algumas dessas experiências – já em andamento ou ainda em construção – principalmente no setor de entregas. Para acompanhar.
EM ANDAMENTO
AppJusto: não é coletivo nem cooperativa, mas os criadores do negócio – vindos do mercado de tecnologia – querem fazer da plataforma um exemplo de relações justas e transparentes no setor de entrega. Eles prometem colaborar, a partir da iniciativa, com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Um dos diferenciais afirmados pela plataforma é autonomia para os entregadores definirem o preço das corridas a partir do que eles chamam de sistema de “frotas”. Por esse mecanismo, entregadores podem se juntar em grupos e cada “frota” pode ver o preço cobrado por todas as outras. Outro ponto é que o software criado pela AppJusto é de código aberto e já está disponível no GitHub. Desta forma, ele pode ser usado por outros coletivos e cooperativas que tenham interesse na tecnologia. A experiência está em fase de testes.
Señoritas Courier: coletivo de entregadoras mulheres e pessoas LGBT de São Paulo. Comprometidas com mobilidade e desenvolvimento sustentável, elas são as estrelas do documentário Entregue como uma Garota. As Señoritas contam com um formulário automatizado para solicitação de orçamento. Com ele, o cliente e a trabalhadora já sabem de antemão qual o valor destinado à entregadora e quanto irá para o coletivo.
TransEntrega: coletivo de entregadores trans. Também comprometido com responsabilidade social e ambiental, a experiência nasceu a partir das Señoritas Courier. Todo o valor de entrega vai para as pessoas trabalhadoras.
Pedal Express: uma das primeiras cooperativas de entregadores do Brasil. Na ativa desde 2010, a experiência de Porto Alegre é defensora das ciclo-mensagerias locais.
Puma Entregas: mais um coletivo de mulheres entregadoras, lançado em 2020 em Porto Alegre. Também são defensoras do uso da bicicleta e das iniciativas locais.
Levô Courier: outro coletivo de entregadores de Porto Alegre, com forte presença de mulheres. Lutar por entregas sustentáveis está entre seus valores.
Contrate Quem Luta: assistente virtual criado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) para conectar seus militantes a pessoas que precisam de serviços de diaristas, porteiros, músicos, pedreiros, manicures, cozinheira, eletricista, entre outros.
EM CONSTRUÇÃO
SafeDelivery: primeira iniciativa da SafeCoop, de Curitiba, que promete construir cooperativas de plataforma. A SafeDelivery será uma cooperativa de entregadores que construirá sua própria plataforma, em que o lucro gerado será destinado aos trabalhadores. A iniciativa está com cadastro aberto para entregadores interessados.
Plataforma de Trabalho Decente: a iniciativa está sendo desenvolvida na cidade de Salvador pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) para encanadores e chaveiros. Detalhes sobre a experiência serão informados em breve.
Entregadores AntiFascistas de São Paulo: o coletivo está em curso de formação para entender melhor suas demandas para uma construção de uma plataforma cooperativa de entrega e luta.
Na Pista: startup que nasceu de pesquisa de doutorado sobre condições de trabalho de entregadores por plataformas, de Igor Dalla Vecchia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo é criar soluções digitais, como dados para proteção de trabalhadores e que conectem-se com planejamento urbano e pesquisas acadêmicas. O projeto foi contemplado com financiamento pelo edital Startup Rio 2020, da FAPERJ.
ContratArte: projeto de plataforma digital para conectar artistas e seus públicos no Rio Grande do Sul, com objetivo de criar alternativa de trabalho para trabalhadores da arte na região. Iniciativa de pesquisadores do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).
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O DigiLabour foi contemplado com financiamento da FAPERGS para desenvolvimento da pesquisa O Papel da Comunicação na Construção de Plataformas Cooperativas no Setor de Entrega no Rio Grande do Sul. Em breve, mais informações.