Quem disse que um game não pode ser marxista? Não é de hoje que aparecem jogos que criticam a exploração do trabalho e o capitalismo. Um exemplo é o Phone Story, de 2011, que mostra a cadeia de produção de iPhone, incluindo crianças escravizadas no Congo e trabalhadores que tentam suicídio na China. Outro jogo mais recente é o Tonight We Riot, produzido pela Pixel Pusher Union e distribuído pela Means TV – duas cooperativas.
Outra iniciativa de destaque é o Workers Game Jam, que teve a sua primeira edição em 2019. É uma convocação para desenvolvedores enviarem jogos sobre temas como organização dos trabalhadores e ação coletiva. Este game jam é coordenado pelo sindicato de trabalhadores de games do Reino Unido – Game Workers Unite UK – e pela revista socialista Notes From Below. O tema deste ano foi ação coletiva dentro e fora do local de trabalho.
Quer saber alguns dos jogos enviados para o Workers Game Jam 2020? Tem dois brasileiros na lista!
A Voz do Operário: desenvolvido por Walter Bolitto e com roteiro de Mateus Lazzaretti, é um jogo narrativo sobre as lutas dos operários no ABC dos anos 1970. Você precisa escolher manchetes da Tribuna Metalúrgica e entregar jornais na porta da fábrica. Tudo isso entremeado por citações de Marx e Lenin.
Jornada do Trabalhador de Si Mesmo: desenvolvido por Fabricio Barili, mestrando em Comunicação e pesquisador do DigiLabour, em uma equipe com outros mestrandos e doutorandos da Unisinos. Neste jogo baseado em texto, você é um motorista de aplicativo e precisa fazer a gestão da própria sobrevivência procurando driblar as lógicas perversas dos algoritmos e organizando-se com outros trabalhadores.
Team Building Exercise: neste jogo, você controla Mike e Jamie, trabalhadores com habilidades diferentes. Os obstáculos somente podem ser vencidos se os dois trabalharem, de fato, em equipe.
Card Strike: neste jogo de decisões a partir de cartas, você precisa organizar-se no trabalho. Cada decisão afeta questões como “poder dos trabalhadores”, “poder do capital”, “Estado” e “seus recursos”. O game foi desenvolvido por Jamie Woodcock, professor da Open University e autor do livro Marx at the Arcade, que chegará em português em breve pela editora Autonomia Literária com prefácio de Rafael Grohmann.
No livro, Woodcock questiona por que marxistas devem se interessar por games e por quais motivos os gamers podem se interessar pelo marxismo. Uma resposta a isso pode ser encontrada no Workers Game Jam.
Mais material sobre Jamie Woodcock:
- entrevista ao DigiLabour sobre gamificação e mundo do trabalho;
- entrevista ao Teorizadah, por Paula Alves, sobre teorias da comunicação e trabalhadores de plataformas digitais;
- artigo em português sobre operaísmo digital, com Callum Cant e Sai Englert, publicado na revista Fronteiras;
- live DigiLabour sobre trabalho em plataformas digitais e organização coletiva de trabalhadores.