“Não basta copiar os modelos corporativos e colocar uma estrutura cooperativa” – Entrevista com Nathan Schneider

Nathan Schneider, professor de Comunicação na University of Colorado Boulder, é uma das figuras centrais do cooperativismo de plataforma, junto com Trebor Scholz. Em 2016, os dois organizaram o livro Ours to Hack and to Own: The Rise of Platform Cooperativism, a New Vision for the Future of Work and a Fairer Internetcom participações de autores como Douglas Rushkoff, Juliet Schorr e Yochai Benkler e exemplos práticos de plataformas cooperativas, como Fairmondo e Data Commons Cooperative. Em setembro de 2018, Schneider lançou um livro solo, Everything for Everyone: The Radical Tradition that Is Shaping the Next Economy, sobre a importância das cooperativas para a economia e a democracia atualmente. Confira a entrevista:

DIGILABOUR: Quais são os maiores desafios do cooperativismo de plataforma atualmente?

NATHAN SCHNEIDER: Eu constantemente me pergunto: como fazer para que seja mais fácil que os empreendedores escolham a cooperação e a democracia? Para mim, os maiores obstáculos são a infraestrutura e o ecossistema. Se uma startup tem uma grande ideia e uma grande equipe, é relativamente fácil arranjar investidores de capital de risco nos Estados Unidos. É muito difícil achar investidores simpatizantes às cooperativas. Por isso, eu tenho trabalhado em duas frentes: dando suporte a novas cooperativas por meio de uma aceleradora chamada Start.coop e ativando as cooperativas mais velhas para estarem mais envolvidas com a nova geração. Também é importante, mesmo para uma cooperativa, reconhecer a importância da liderança e da visão de um fundador ou grupo fundador. Eu considero que muitas das primeiras cooperativas dificultaram as coisas para elas mesmas imaginando que poderiam fazer tudo sem liderança. O objetivo de uma cooperativa, em minha visão, deve ser o de fazer com que tais líderes prestem as contas adequadamente às pessoas que dependem deles, e não à classe dos investidores.

 

 

DIGILABOUR: Em seu livro mais recente, Everything For Everyone, você traça uma história do cooperativismo até o seu revival e afirma que as cooperativas são uma passagem para a produção peer-to-peer baseada no comum.

SCHNEIDER: Sim, a visão de uma sociedade mais peer-to-peer é aquela em que a corporação industrial não é mais o ponto focal da vida econômica. Mais coisas podem ser feitas por indivíduos e coletivas trabalhando a partir de coordenação e colaboração em vez de entidades legais fixas. As próprias cooperativas são corporações, invenções do mesmo período industrial que criou a empresa de propriedade do investidor. Assim, numa visão peer-to-peer, as cooperativas podem ser tornar obsoletas. Nesse meio tempo, contudo, sua expertise nesse trabalho de coordenação e colaboração pode torná-las a forma corporativa capaz de promover uma transição para o peer-to-peer.

 

DIGILABOUR: Nós vemos algumas cooperativas declarando-se “a Uber Cooperativa”, “a Netlix Cooperativa”, como a Means.TV, “o Spotify Cooperativo”, como o Resonate, por exemplo. Qual o caminho para que a inovação das plataformas cooperativas avance para além disso?

SCHNEIDER: Eu me convenci de que não chegaremos a lugar algum simplesmente copiando os modelos corporativos, colocando uma estrutura cooperativa neles e assumindo que as massas virão até nós. Isso não vai acontecer. As cooperativas mais poderosas em todo o mundo são aquelas que tiveram sucesso porque funcionam de uma forma que o modelo de propriedade dos investidores simplesmente não pode ou não vai funcionar. Esta é uma lição da História. Cooperativas de crédito, cooperativas de serviços de eletricidade, associações de imprensa, cooperativas financeiras, cooperativas de fazendeiros – todas elas se tornaram poderosas porque fizeram o que os investidores não podiam fazer sozinhos e se defenderam da concorrência dos investidores porque o que eles poderiam oferecer era superior. Em alguns casos, também porque eles tinham poder político para enfraquecer as vantagens dos investidores ricos. As cooperativas têm potencial para desenvolver negócios fundamentalmente diferentes do que os investidores buscam, e precisamos projetar cooperativas de plataforma com essa questão em mente. Acho que o sucesso de qualquer uma dessas cooperativas que você citou vem da sua diferença em relação ao status quo. A Stocksy United foi bem sucedida porque seu modelo permite um pagamento mais alto aos produtores de conteúdo em relação a outras empresas. Eu ouço o Resonate porque acho que as músicas são mais surpreendentes e interessantes que outras plataformas do mesmo tipo. Os motoristas em Austin amam o RideAustin – que não é bem uma cooperativa, mas tem algumas semelhanças – porque é melhor economicamente.

 

Confira também vídeos de Nathan Schneider aqui, aqui e aqui.

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