Trabalho e reality show: indicações de referências

Os realities shows são objetos de pesquisa multidimensionais e têm sido estudados há quase vinte anos. Um dos primeiros pesquisadores a enfrentar o assunto foi Mark Andrejevic, que em 2002 publicou The kinder, gentler gaze of Big Brother: Reality TV in the era of digital capitalism na New Media & Society e em 2004 lançou o livro Reality TV: The work of being watched.

lógica dos realities já está presente na gestão das empresas desde antes do termo gamificação estar na moda, como mostra o filme O Que Você Faria? (El Metodo) e descrevem Pierre Dardot e Christian Laval no livro A Nova Razão do Mundo:

“Alguns jogos televisivos, os chamados “reality TV”, também ilustram essa ‘luta pela vida’, em que apenas os mais espertos e, com frequência, os mais cínicos conseguem ‘sobreviver’ (Survivor), reativando num contexto muito diferente o mito de Robinson Crusoé e a “sobrevivência dos mais aptos” em situações de perigo extraordinárias. Esse tipo de ‘robinsonada’ contemporânea radicaliza a nova norma social, mas mostra à perfeição um imaginário em que desempenho e gozo são indissociáveis. O sujeito neoliberal é produzido pelo dispositivo desempenho/gozo”.

Com o BBB21 mobilizando muitas discussões (em breve no congresso mais perto de você), indicamos algumas leituras que podem ajudar nas relações entre reality show e trabalho:

Rituais de Sofrimento: “Parece que foi o cara do Jogos Mortais que fez essa prova do líder”. O livro de Silvia Viana é um clássico para pensar o mundo do trabalho e as contradições em torno do reality show;

Reality show como teatro secreto do neoliberalismo: em texto de 2008, Nick Couldry explica como a dimensão ritual invisível no trabalho contemporâneo relaciona-se firmemente ao neoliberalismo e aos realities;

Trabalho e Performance em O Aprendiz: em outro artigo, de 2011, Couldry junta-se a Jo Littler para analisar as culturas do trabalho e as questões de performance presentes no reality que era apresentado por Donald Trump. Aliás, olhando uma década depois, dá o que pensar as carreiras dos ex apresentadores Trump e João Dória…

Será que os realities são mesmo neoliberais? Em texto mais recente, de 2018, Guy Redden amplia as visões anteriores e argumenta que o papel das pessoas comuns nos realities é desempenhar subjetividades empreendedoras competitivas sem expectativa de recompensas justas, mas com esperança de obterem algo extraordinário. O autor afirma que as narrativas midiáticas são não apenas consistentes com a base econômica, mas também em consonância com o contexto de aumento das chamadas “políticas de austeridade”;

Os Fãs do Big Brother Brasil: fruto da tese premiada de Bruno Campanella, o livro Os Olhos do Grande Irmão debate questões como disputas de fãs, autenticidade, pessoal como político, e sociedade e indivíduo a partir do BBB. Para quem quiser um artigo focado em autenticidade, sugerimos Tirando as máscaras: o reality show e a busca pela autenticidade no mundo contemporâneo. Do ponto de vista da economia política, destacamos o artigo Investindo noBig Brother Brasil: uma análise da economia política de um marco da indústria midiática brasileira;

Trabalho de Transformação e Circuitos de Valor: Beverley Skeggs e Helen Wood relaciona trabalho doméstico e economia afetiva a partir de estudos com telespectadoras de reality show na Inglaterra considerando os circuitos de valor. As duas autoras também publicaram o livro Reacting to Reality Television: Performance, Audience and Value;

Classe e Reality Show: Outro texto de Skeggs sobre como as relações de classe moldam as performances de participantes de realities e como são as representações da classe trabalhadora nesses programas. Sobre o tema, Skeggs organizou com Helen Wood o livro Reality Television and Class. Em entrevista à Veneza Ronsini e Gustavo Dhein, Skeggs disse: “o que foi verdadeiramente surpreendente e muito bonito em nossa pesquisa foi o quanto o público detestava a humilhação de classe. Todos os grupos, a despeito de sua posição de classe, odiavam quando as pessoas eram humilhadas”;

Raça e Realities: em 2008, a revista Critical Studies in Media Communicationpublicou um dossiê especial sobre raça e reality show Um dos destaques é o artigo As Seen on TV: An Autoethnographic Reflection on Race and Reality Television, de Robin M. Boylorn;

Trabalho Imaterial e Reality: Jacob Johanssen traça as polêmicas relações entre exploração de trabalho imaterial e reality show como mais-valia afetiva em capítulo do livro The Spectacle 2.0.

Crítica da Tese do Trabalho Imaterial: Já Alison Hearn, em texto na revista tripleC, mostra os limites da tese do trabalho imaterial para explicar os realities.

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