Início » Aspirações e imaginários do trabalho digital nas Filipinas: entrevista com Cheryll Soriano Interviews Aspirações e imaginários do trabalho digital nas Filipinas: entrevista com Cheryll Soriano Cheryll Soriano é professora de Comunicação da De La Salle University, nas Filipinas, pesquisando cultura digital e trabalho digital a partir das margens. Seus artigos abordam imaginários, aspirações e práticas de trabalho a partir do Sul Global, como uma investigação sobre espaços de coworking. Também tratam de dilemas dos trabalhadores entre se considerarem precarizados e fazendo relativo sucesso em uma sociedade como a filipina. Há questões e contradições envolvendo perspectivas de classe e colonialidade. Sua pesquisa tem focado em trabalhadores freelancers de plataformas digitais que trabalham para empresas de várias partes do mundo, fazendo uma diversidade de atividades de trabalho. Descobriu, inclusive, uma elite desses trabalhadores, os “skill makers”, que ajudam na formação de novos trabalhadores de plataformas. Soriano também tem investigado novas formas de solidariedade e sociabilidade que tem emergido na organização dos trabalhadores das plataformas, para além das organizações tradicionais. A pesquisadora conversou com DigiLabour sobre essas questões: DIGILABOUR: Quais são os pontos cegos da pesquisa sobre trabalho digital no Norte Global e como podemos fazer avançar investigações a partir de outros contextos? CHERYLL SORIANO: Há uma crescente coleção de estudos valiosos sobre trabalho digital, retratando as experiências nos contextos do Norte e do Sul. As pesquisas sobre trabalho digital no “Sul Global” têm levantado preocupações sobre a precariedade de tal trabalho, em que as pessoas se veem competindo por empregos hiperespecializados e subvalorizados em ambientes às vezes até descritos como sweatshops – literalmente fábricas de suor – digitais. Alguns desses trabalhos fornecem análises teóricas úteis e relatos empíricos das experiências de precariedade entre trabalhadores no Sul Global, incluindo Filipinas, e nossa pesquisa parte desses estudos. No entanto, sentimos que ainda existe uma compreensão insuficiente acerca da natureza do trabalho digital baseado no contexto de informalidade e precariedade no Sul global e que examine as experiências dos trabalhadores com uma abordagem etnográfica mais fundamentada. Embora observemos, como argumenta a literatura existente, que o trabalho digital expõe os trabalhadores a algumas formas de exploração e autoexploração, sentimos que, além de ver o trabalho digital como uma mera resposta ao “desemprego” ou “subemprego”, podemos desenhar uma análise das complexidades socioculturais e econômicas que são situadas, da história do trabalho e das experiências atuais a fim de compreender por quais motivos os filipinos são atraídos para essas formas de trabalho. Para esse fim, nossa pesquisa em andamento examina: a) os imaginários dos trabalhadores das plataformas ou como os trabalhadores das plataformas descrevem e entendem suas experiências de trabalho digital e suas aspirações futuras; b) a estrutura emergente de apoio ao trabalho digital, incluindo quaisquer intermediários locais e as assimetrias de poder entre os trabalhadores e entre trabalhadores e plataformas; c) até que ponto os trabalhadores reconhecem e são bem sucedidos em relação os desafios impostos pelas condições de trabalho digital, bem como uma análise das formas emergentes de resistência e solidariedade que procuram desafiar as condições abusivas do trabalho digital; e d) as materialidades do trabalho digital, incluindo a natureza e o design dos espaços de coworking e como eles estão sendo usados pelos trabalhadores das plataformas. DIGILABOUR: Como entender a plataformização do trabalho dos freelancers no contexto das Filipinas? SORIANO: A crescente conectividade global e o relativo acesso às tecnologias anunciaram o aumento do trabalho nas plataformas on-line ou no trabalho de serviços mediado digitalmente. A plataformização do trabalho refere-se a esses novos arranjos de trabalho, onde os trabalhadores (muitos deles localizados no Sul Global) conseguem trabalho de plataformas digitais de trabalho, incluindo Upwork (globalmente) ou Onlinejobs.ph (no contexto filipino), que procuram dar match com clientes em potencial, geralmente sediados no Norte Global. Ao contrário da terceirização realizada como em trabalho em call centers, as plataformas digitais de trabalho representam um novo modelo, pois permitem que os processos sejam terceirizados sem a mediação de empresas formais. Os trabalhadores, ao construírem portfolios atraentes, podem oferecer lances para as tarefas disponíveis, e as diferentes plataformas têm políticas diferentes sobre isso. Seguindo a dinâmica de trabalho das plataformas, os trabalhadores não possuem relacionamentos formais empregado-empregador na plataforma. Em vez disso, os trabalhadores celebram um “contrato” com a plataforma, por exemplo, que os impede de fazer transações diretas com clientes fora da plataforma. Além disso, semelhante ao Uber ou Grab, os clientes dão nota para os trabalhadores em cada projeto e essas classificações acumuladas constituem o portfólio dos trabalhadores, o que, por sua vez, também determina suas chances de ser contratado novamente. Há uma ampla variedade de tipos de trabalho nessas plataformas, desde codificação de dados até moderação de conteúdo, de desenvolvimento de softwares e games a aulas de inglês e desenvolvimento de sites. Os estudos mostram e nossas entrevistas também revelam que muitos filipinos estão envolvidos no trabalho de “assistência virtual”, que envolve desempenhar o papel de assistente geral, que pode abranger toda uma gama de tarefas executadas para um cliente frequentemente sediado no exterior. Classificadas com as piores taxas de desemprego da Ásia, mas com uma grande população com proficiência em inglês, as Filipinas se tornaram um dos principais locais de trabalho desses tipos de atividades. Dados sobre a oferta de mão-de-obra na gig economy mostram que o país, juntamente com a Índia, Bangladesh e Paquistão, são as principais fontes de oferta de mão-de-obra. O governo filipino defende o trabalho digital como uma maneira de superar problemas de emprego enfrentados pelos filipinos em todas as faixas etárias e formações educacionais. O governo vê o trabalho em plataformas como um complemento a outras formas de trabalho, uma alternativa à migração de mão de obra para o exterior, um catalisador para o desenvolvimento urbano e rural e uma opção atraente para jovens graduados. Os profissionais filipinos também estão migrando para o trabalho em plataformas digitais em troca de autonomia, flexibilidade espacial e a possibilidade de ganhar mais. Os rótulos de “heróis modernos” e “força de trabalho de classe mundial” que foram atribuídos anteriormente a trabalhadores filipinos no exterior estão sendo gradualmente conferidos também a trabalhadores freelancers on-line. Agora, eles são rotulados como trabalhadores que ainda ganham dinheiro e atuam como “trabalhadores globais”, ainda que seja somente enquanto se faz o trabalho em casa. DIGILABOUR: Quais são os imaginários e as aspirações dos freelancers em relação ao trabalho digital? SORIANO: Em nossa pesquisa, procuramos nos apoiar em trabalhos que problematizam a cômoda atribuição acadêmica de marginalidade a trabalhadores digitais no Sul Global. Damos especial atenção às experiências contraditórias que os trabalhadores das plataformas nas Filipinas têm em relação à precarização. Para fazer isso, inspiramos-nos no trabalho de Ronaldo Munck, que argumenta vigorosamente a necessidade de contrabalançar a tendência da pesquisa ocidental de conferir uma aura de novidade à precariedade e à informalidade, que sempre foi a condição de trabalhadores no Sul Global. Enraizados nos sentidos que os próprios trabalhadores atribuem aos seu engajamento no trabalho, argumentamos que os elementos afetivos do trabalho digital talvez possam ser compreendidos por meio dos imaginários de classe e colonialidade, que acabam por se entrelaçar. Aqui definimos classe além da questão econômica, mas por meio das lentes mais amplas do social. Também reconhecemos uma consciência pós-colonial que diz respeito a como os sujeitos possuem uma história e um modo de ser que resiste ou subverte uma forma de ser que seja totalmente definida pela colonialidade e pelo capital. No entanto, para muitos trabalhadores filipinos que trabalham em plataformas, por exemplo, o imaginário de classe pessimista de uma “classe média marginal” está lado a lado com um imaginário colonial positivando o fato de ser um “trabalhador global”. Eles se veem não como apenas mais um trabalhador de colarinho branco, mas como alguém que está ligado ao fluxo global de indústrias e, como tal, a um estilo de vida global. Esses trabalhadores também apreciam como seus empregos (muitos deles ex-trabalhadores de call center e que foram para o trabalho em plataformas para evitar turnos noturnos, longas horas de trabalho, condições de trânsito horríveis ou para passar mais tempo com suas famílias em casa) lhes dão acesso a alguns dos marcadores percebidos de um estilo de vida global de classe média, como vestir roupas da moda ou poder pagar “luxos” da classe média, como ter casa própria ou mandar as crianças para escolas particulares. É nesse contexto que enfatizamos que qualquer análise das condições dos trabalhadores das plataformas no Sul Global deve situar as condições de trabalho existentes em relação às alternativas disponíveis – que geralmente apresentam piores condições – e que, para muitos desses trabalhadores, são muito pesadas. Em um artigo que escrevi com Jason Vincent Cabanes, nós apresentamos os imaginários sobre trabalho digital de freelancers on-line nas Filipinas. Com base em uma pesquisa de dois anos, apresentamos três imaginários que se entrelaçam: “distinção”, “transcendência” e “flexibilidade”. DIGILABOUR: O que eles significam? SORIANO: O imaginário da ‘distinção’ diz respeito à crença na excepcionalidade dos filipinos quando se trata de um trabalho de serviço global e qualificado. Isso os situa na longa história de seus compatriotas, que satisfazem a escassez de mão-de-obra em todo o mundo, como enfermeiros e trabalhadores domésticos, trabalhadores agrícolas e cozinheiros. Os trabalhadores se viam em particular como uma classe especial de trabalhadores que possuíam características distintas (ou seja, capacidade de falar inglês bem, serem bons trabalhadores de serviços, capazes de lidar com clientes estrangeiros) e que correspondiam aos requisitos do trabalho digital como “trabalhadores de uma classe mundial”. O segundo imaginário de classe, “transcendência”, refere-se à crença em suas capacidades de superar as dificuldades inerentes ao trabalho digital e, consequentemente, atingir a promessa de um futuro de sucesso. Eles costumavam expressar isso construindo uma reputação baseada na resiliência e, subsequentemente, visualizando o sucesso (considerado o que eles conseguiram alcançar ou comprar) que resulta de seu trabalho, todos compartilhados ativamente pelos trabalhadores em grupos do Facebook ou comunicados durante encontros presenciais. Observamos que essa prática de construir uma reputação em torno da resiliência teve fortes inflexões coloniais e de classe. Isso reforçou uma dinâmica que fez os trabalhadores sentirem que seu desejo de auto aperfeiçoamento e mobilidade social estava alinhado com o que era considerado desejável pelo capital global. Por sua vez, essa mentalidade “resiliente” também os torna suscetíveis à exploração e autoexploração, levando-os a passar horas e horas com a imaginação de que mais tarde os frutos de seu trabalho árduo serão recompensados. Por fim, os trabalhadores freelancers filipinos também articulam o imaginário colonial e de classe da “flexibilidade”. Para muitas das pessoas que entrevistamos, o seu trabalho colocava em foco como eles estavam conectados às infraestruturas de conectividade global que impulsionam as plataformas de trabalho digital nas quais trabalhavam. Também destacava como eles eram capazes de encontrar maneiras de evitar as imobilizações de infraestrutura das Filipinas – trânsito pesado, estradas ruins, transporte público ineficiente – que caracterizavam a vida de classe média contemporânea nos ambientes urbanos congestionados das Filipinas. O trabalho como freelancer on-line também fez com que os trabalhadores repensassem seus padrões do que seria um “bom trabalho”, já que experimentavam o trabalho digital como um local para negociar a flexibilidade e a atraente fluidez entre espaço de trabalho e espaço de lazer. O imaginário da flexibilidade também engloba imaginários de mobilidade social ilimitada (ou seja, quanto mais se trabalha duro, maior sucesso) e diversidade em relação à natureza do trabalho (ou seja, é possível saltar facilmente de um emprego para outro, conforme o que for necessário, aprendendo a trabalho “na hora”). O aspecto interessante dos “imaginários de flexibilidade” é que ele poderia ser negociado dependendo dos valores específicos aos quais um trabalhador atribuía importância. E isso pode ser relacionado a diversificar a natureza do trabalho, a expandir a capacidade de ganho, a projetar o espaço de um escritório como um espaço de lazer, ter mais oportunidades de viajar ou passar mais tempo com a família. DIGILABOUR: O que são os chamados “criadores de habilidades” (skill makers) nas Filipinas? SORIANO: A maioria das pesquisas recentes sobre trabalho digital no Sul global destaca as condições difíceis do trabalho digital, em que os trabalhadores assumem uma posição impotente em relação a seus clientes e tratam dos recursos disciplinares da plataforma. O que geralmente não se compreende é o que impulsiona e sustenta essa forma de trabalho, além das políticas e assimetrias que caracterizam as experiências diferenciadas dos trabalhadores nessa economia digital. Em nossa pesquisa, observamos que há tipos específicos de trabalhadores que são capazes de prosperar e experimentar a mobilidade social e econômica e se tornarem os “criadores de habilidades” do setor. Essa é uma categoria emergente de trabalhadores digitais influentes que iniciam várias atividades para “capacitar o setor”, treinando trabalhadores aspirantes e gerenciando comunidades de suporte on-line, enquanto simultaneamente obtêm ganhos com essa nova “economia de desenvolvimento de habilidades”. Por sua vez, os imaginários que eles detêm atraem trabalhadores para o trabalho digital, embora às vezes sejam incapazes de cumprir suas promessas. Os “skill makers” emergem como uma categoria de trabalho importante, pois ajudam os trabalhadores das plataformas a reconciliar a condição ambígua do seu trabalho. Desempenham um papel na introdução de aspirantes a trabalhadores das plataformas rumo a uma visão do que podem ser nesse ambiente de trabalho digital e os treinam com “estratégias práticas” para alcançar o “sucesso”. Ao mesmo tempo, eles também estão muito cientes da precariedade do trabalho em plataformas. Muitos deles conhecem a ambiguidade de mudar do trabalho em plataformas para um emprego regular em tempo integral, as condições perniciosas e injustas geradas pelo design das plataformas (ou seja, a arbitragem trabalhista, o sistema sociotécnico de classificação de trabalhadores na plataforma) e foram expostos às dificuldades de trabalhar com clientes estrangeiros. Em suma, eles se colocam como um “grupo de elite” de trabalhadores porque capitalizam suas experiências e se expõem aos desafios do trabalho digital e os traduzem como narrativas e habilidades positivas que podem monetizar como “pacotes de treinamento”. Apesar dos pronunciamentos do governo que promovem o trabalho digital como uma solução crucial para o desemprego, os mecanismos para apoiar os trabalhadores envolvidos em plataformas estão ausentes. Para os recém-chegados, o trabalho em plataformas pode ser confuso: não apenas o processo de se envolver em trabalho em plataforma é totalmente mediado, mas também é preciso discernir plataformas e clientes legítimos de golpes, apresentar a si mesmo e suas habilidades de maneira convincente e em um idioma estrangeiro. e gerenciar as demandas de clientes estrangeiros. Para aqueles que fazem a transição do emprego em período integral (geralmente de call centers), para trabalhar como freelancer em período integral por meio de plataformas, os trabalhadores costumam ser cautelosos com relação à segurança ou sazonalidade do trabalho, à disponibilidade de benefícios não salariais ou se existem mecanismos de reparação, se os clientes acabam não querendo pagar pelas tarefas concluídas. Alguns trabalhadores que ingressam na economia das plataformas digitais podem não ter formação educacional ou profissional para os empregos que desejam, mas acreditam que conseguir emprego é possível se conseguirem a “receita” certa para o sucesso – novamente como foi vendido por formadores de opinião. Com muitos trabalhadores acabam sendo vitimados por golpistas e clientes abusivos, alguns que pretendem aproveitar as promessas coloridas desse setor exigem ser orientados por pessoas para que possam navegar em um ambiente que é complexo. DIGILABOUR: Quais as formas emergentes de solidariedades entre os trabalhadores filipunos? SORIANO: Em nossa pesquisa atual, eu e Jason Vincent Cabanes procuramos problematizar os tipos de solidariedade entre os trabalhadores que podem se cristalizar a partir das experiências contraditórias de precariedade dos trabalhadores digitais. Atualmente, há um interesse crescente em como a organização coletiva pode ser alcançada, especialmente porque é esperado que trabalhadores das plataformas trabalhem em casa ou em algum local público e fisicamente desconectados uns dos outros. Essas pesquisas geralmente se concentram em explorar novos modelos de sindicalização, mas buscamos ampliar essa discussão e considerar outras formas emergentes de solidariedade. Analisamos a função que os grupos do Facebook desempenham para esses trabalhadores freelancers filipinos on-line que são geograficamente isolados e investigamos as possibilidades que esses grupos em mídias sociais desempenham no sentido de organizar os trabalhadores digitais, a fim de lutar por direitos trabalhistas. Em um artigo que finalizamos recentemente e que será publicado em uma edição especial da revista Social Media + Society, examinamos a complexidade de como os trabalhadores digitais no Sul Global experimentam a precariedade e, de forma crucial, os tipos de solidariedade entre trabalhadores que emergem disso. A partir de observação em grupos de freelancers no Facebook, entrevistas e grupos focais com trabalhadores freelancers, argumentamos que o que parece estar emergindo são “solidariedades empreendedoras”, um conceito que desenvolvemos ao longo do artigo. Mostramos que as interações e trocas sociais promovidas por essas solidariedades são caracterizadas por discursos concorrentes de ambiguidade, precariedade, oportunidade e adaptação que são articuladas e visualizadas por meio de sociabilidade nas mídias sociais. Também apontamos que, por um lado, essas solidariedades empreendedoras mostram que os trabalhadores digitais não aceitam de maneira passiva e simplista os discursos neoliberais sobre o trabalho digital. Em vez disso, as trocas nos grupos do Facebook mostram que os trabalhadores estão cientes dos abusos e das condições desafiadoras que o trabalho em plataformas representa. No entanto, essas solidariedades estabelecidas e mantidas principalmente on-line (mas também ocasionalmente de forma presencial) também podem ser vistas como não atingindo todo seu potencial de resistência, pois elas reforçam, em vez de impor pressões a, mudanças estruturais críticas que podem melhorar a viabilidade das condições de trabalho em plataformas. As aspirações por um ambiente de trabalho flexível e de “oportunidades ilimitadas” são promovidas mais ativamente nesses círculos locais de freelancers, enquanto treinam trabalhadores para “navegar sabiamente pelos desafios do trabalho digital” a fim de ter sucesso. A natureza cotidiana e pessoal dessas sociabilidades funciona para criar um senso de coworking e identificação a partir de experiências compartilhadas que também ajudam a reconhecer os desafios e, ao mesmo tempo, tornar palatáveis suas condições de trabalho. Apesar disso, enfatizamos que isso serve como espaço para a articulação dos descontentes e para o compartilhamento de estratégias de enfrentamento e sucesso entre os trabalhadores que geralmente não têm melhores opções de emprego nem recebem muito apoio do governo. Talvez seja por meio de tais solidariedades que podem ser adotadas futuras intervenções para fornecer apoio e promover a viabilidade do trabalho digital. Somente uma observação a partir de uma atualização da pesquisa. Em um recente trabalho de campo em Iligan (uma cidade de médio porte em Mindanao, localizada ao sul das Filipinas), vimos uma forma emergente de organização, “Wrupup”, que visa desafiar as plataformas de trabalho já existentes e estabelecer um fonte mais justa de trabalho em plataformas para trabalhadores que moram em Iligan por meio de sua própria plataforma local que combina trabalhadores locais com alguns clientes e contatos estrangeiros e locais. Formado pelos próprios trabalhadores da plataforma, o Wrupup procura prometer taxas mais justas, organiza formações para trabalhadores locais e pretende promover poupanças em cada transação a fim de proteger os trabalhadores durante a “baixa temporada”. A desvantagem é que o Wrupup está tendo dificuldades em competir com as plataformas maiores e mais populares e em atrair trabalhadores. Estamos acompanhando esses desenvolvimentos e novas formas de organização coletiva entre trabalhadores de plataformas. Enquanto isso, continuamos com nosso trabalho de campo em outras áreas do arquipélago das Filipinas. DigiLabour Compartilhar Artigo AnteriorTrabalho e cultura da fofura no Japão: entrevista com Gabriella Lukács Próximo ArtigoResistências algorítmicas: entrevista com Anne Kaun 14 de fevereiro de 2020