Muita gente fala dos algoritmos que atuam no trabalho em plataformas, mas o que isso quer dizer exatamente? Quais estudos têm falado sobre isso?
Os algoritmos têm sido objeto dos chamados estudos de plataformas, com contribuições importantes de Tarleton Gillespie, Taina Bucher e David Beer, entre outros. No Brasil, autores como Carlos D’Ándrea, Tarcízio Silva, Willian Fernandes Araújo, Leonardo Pastor, André Lemos e Elias Bitencourt têm se dedicado ao assunto a partir de perspectivas como performatividade algorítmica, controvérsias, normas e racismo algorítmico. A revista EPTIC, de Economia Política da Comunicação, recentemente publicou um dossiê sobre algoritmos, economia e poder.
Mas qual é o papel dos algoritmos no mundo do trabalho? Indicamos algumas referências:
No Brasil:
- Ana Guerra está desenvolvendo seu mestrado na UFMG sobre plataformização e trabalho algorítmico a partir de cartografias da tarifa dinâmica da Uber;
- Sérgio Amadeu, professor da UFABC e criador do podcast Tecnopolítica, publicou em co-autoria com Joyce Souza na revista Contracampo um artigo sobre gestão algorítmica do trabalho e reprodução do capital no mercado de seguros;
- Henrique Amorim e Felipe Moda publicaram na revista Fronteiras pesquisa sobre gerenciamento algorítmico no trabalho de motoristas de Uber como uma nova forma de gestão, organização e controle da força de trabalho.
Fora do Brasil:
- Alex Rosenblat e Luke Stark, em texto de 2016, falam sobre trabalho algorítmico e assimetrias de informação a partir de pesquisa com motoristas de Uber;
- Em um dos textos mais citados da área, Möhlmann e Zalmanson pensam o gerenciamento algorítmico como práticas de supervisão, controle e governança conduzidos por algoritmos em trabalhadores de forma remota. As características do gerenciamento algorítmico, para eles, são: a) rastreamento e avaliação permanentes do comportamento e do desempenho dos trabalhadores; b) automatização de decisões por meio de algoritmos; c) menor transparência algorítmica, com os trabalhadores não tendo acesso ao conjunto de regras que regem os algoritmos;
- Despotismo autoritário dos algoritmos é o principal achado da pesquisa de Griesbach e outros autores com trabalhadores de plataformas de entregas de alimentação;
- O papel dos algoritmos na vigilância dos trabalhadores é tema de textos de Gemma Newland a partir da noção de espaço em Henri Lefebvre e de Jamie Woodcock sobre o panóptico algorítmico, rastreando o seu desenvolvimento desde a supervisão na fábrica, passando pela central de atendimento até o gerenciamento algorítmico na Deliveroo. O autor considera que a técnica gerencial se baseia em ilusões de controle e liberdade;
- Ping Sun analisa o algoritmo atuando no cotidiano de trabalho em plataformas de entrega de alimentos e considera que há um constante refazer dos algoritmos em suas práticas, pois os trabalhadores não são somente entes passivos ao “panóptico algorítmico”, mas criam suas próprias táticas para “algoritmos orgânicos” no sentido de tentar subverter o sistema;
- Na mesma direção, Jarrahi e Sutherland conduziram investigação com trabalhadores da Upwork e deixam claro que os trabalhadores não são receptores passivos do gerenciamento algorítmico, mas desenvolvem conhecimentos para compreender e trabalhar com os algoritmos;
- Outros casos falam especificamente do gerenciamento algorítmico no AirBnB e na pesquisa sobre relações de emprego.
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[Foto: Nelson Antoine / Shutterstock.com]