Relatório AI Now 2019 e recomendações DigiLabour da Semana

RELATÓRIO AI NOW 2019

Saiu o relatório 2019 do AI Now Institute, coordenado por Kate Crawford e colaboradores. Confira alguns dos pontos principais e recomendações do report:

PRINCIPAIS ACHADOS

  • A disseminação da gestão algorítmica do trabalho está aumentando a assimetria entre trabalhadores e empregadores. A inteligência artificial afeta tanto os estáveis quanto os instáveis, mas os maiores danos da automação serão enfrentados pelos trabalhadores com negros e com salários mais baixos;
  • Grupos comunitários, trabalhadores, jornalistas e pesquisadores – não declarações e políticas corporativas de IA – foram os que mais pressionaram empresas e governos em relação ao uso de IA;
  • Há esforços para regular a IA, mas isso está sendo superado pela adoção governamental de sistemas de IA para vigiar e controlar;
  • Os sistemas de IA continuam amplificando desigualdades de raça e gênero. As desigualdades também tem sido reforçadas no Sul Global.
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES
  • Governo e empresas devem parar com todo o uso de reconhecimento facial;
  • A indústria de IA precisa de mudanças estruturais significativas para lidar com racismo, misoginia e falta de diversidade, pontos que são sistêmicos. A pesquisa sobre viés algorítmico deve ir além das correções de técnicas para abordar políticas e consequências do uso de IA;
  • Os trabalhadores devem ter o direito de contestar a IA exploradora e invasiva, com a ajuda dos sindicatos;
  • Os trabalhadores de tecnologia devem ter o direito de saber o que estão construindo e contestar usos antiéticos ou prejudiciais ao seu trabalho.

RECOMENDAÇÕES DA SEMANA

  • Texto imperdível de Aaron Benanav na última edição da New Left Review sobre automação e futuro do trabalho. O autor argumenta que, em vez de um mundo marcado por desemprego em massa, o que haverá é a intensificação cada vez maior dos subempregos. Benanav fala que lutar por renda básica universal é muito pouco frente à realidade e devemos lutar por um planeta pós-escassez;
  • Outro argumento central do texto é que a causa da baixa demanda por trabalho não é a tecnologia, mas a desaceleração progressiva do crescimento econômico desde a década de 1970;
  • Na última edição da Columbia Law Review, textos imperdíveis de Kate CrawfordFrank Pasquale e Tim Wu. Crawford mostra como os sistemas algorítmicos contribuem para as tomadas de decisão dos governos sem nenhum mecanismo de accountability e como os tribunais devem responsabilizar empresas privadas de IA quando o governo usa suas ferramentas de maneira a violar a lei;
  • Já o artigo de Pasquale trata da importância da lei direcionar e não apenas restringir o desenvolvimento da inteligência artificial. E o texto de Tim Wu apresenta estudos sobre controle do discurso de ódio em plataformas como Twitter e Facebook e se pergunta se a IA “comerá” a lei;
  • Matéria mostra a comunicação dos trabalhadores das plataformas digitais, organizando-se por meio das mídias digitais. Mostra o caso do “Ni un repartidor menos”. Participação de Jamie Woodcock falando o que dizemos aqui no Brasil (Ludmila Abilio, por exemplo) há algum tempo: na América Latina, a informalidade e a precariedade são a regra historicamente, não a exceção;
  • Como os partidos políticos britânicos estão se preparando (ou não) para o futuro do trabalho – e dos trabalhadores, especialmente. Texto de pesquisadores de Oxford – capitaneados por Mark Graham – no blog da London School of Economics;
  • Foi lançada a nova edição da revista Work Organisation, Labour & Globalisation, com textos sobre “organizadores remotos”, centros de dados e dinâmicas de sindicalização no setor de tecnologia;
  • Na Feminist Reviewartigo sobre gênero e tecnologia nas startups da Índia, mostrando como o trabalho é profundamente corporificado e marcado nos corpos racializados e generificados de trabalhadores não pertencentes às elites;
  • Podcast Digitopia, do Grupo de Pesquisa em Direito, Inovação e Tecnologia (GPDIT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apresenta conversa com Valerio de Stefano sobre automação, inteligência artificial e Direito do Trabalho;
  • Como é o trabalho nas plataformas de países como Bulgária, Hungria, Polônia e Eslováquia? Saiu relatório do European Trade Union Institute (ETUI);
  • Consumo musical, gosto e classe social nas lógicas algorítmicas de streaming. Texto publicado na Big Data & Society;
  • Reconhecimento facial e exploração do trabalho online: comentário de Antonio Casilli;
  • A filha do executivo da Google que está fundando uma iniciativa jornalística sem fins lucrativos para cobrir “os efeitos complexos da tecnologia” no Sul Global. Rs
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