O debate sobre cooperativismo de plataforma está com mais visibilidade depois das greves dos entregadores no mês de julho e a emergência de cooperativas e coletivos de entregadores no país.
Já publicamos na DigiLabour exemplos de cooperativas de plataforma de entregadores ao redor do mundo e entrevistas com pesquisadores como Nathan Schneider, Marisol Sandoval, Juliet Schor, Christian Fuchs e cooperativas como Means TV e Mensakas. Também fizemos live com Melissa Renau Cano, do grupo Dimmons, da Universidade Oberta de Catalunya (UOC), uma das referências mundiais no cooperativismo de plataforma.
E quem anda investigando sobre cooperativismo de plataforma no Brasil? Conheça sete pesquisadores:
Mário de Conto: diretor da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), Mário é coordenador da pesquisa Cooperativas de Plataforma e Ambiente Jurídico, cujo objetivo é analisar o que pode impulsionar e restringir o cooperativismo de plataforma no ordenamento jurídico brasileiro e, a partir disso, propor medidas para seu desenvolvimento. Dá para ouvi-lo no podcast CoopCast.
Luciana Bruno: em sua dissertação de mestrado sobre empreendedores de startups e trabalho imaterial no capitalismo cognitivo, defendida em 2018 no IBICT/UFRJ, Luciana já apontava o cooperativismo de plataforma como uma das saídas possíveis. Em 2019, foi selecionada como fellow do Institute for the Cooperative Digital Economy, o braço de pesquisas do Platform Cooperativism Consortium. Sua pesquisa foi um estudo de caso da Cataki, aplicativo criado pela ONG Pimp My Carroça, que une catadores a pessoas interessadas em se desfazer de materiais recicláveis. Luciana entrevistou 20 catadores de São Paulo e Rio de Janeiro sobre suas condições de trabalho e vontades de se unir a uma cooperativa – tradicional ou de plataforma. A investigação será publicada no segundo semestre e mostra o que a Cataki já conquistou em termos de organização de trabalhadores e o que poderia conquistar se ela se tornasse uma cooperativa de plataforma, considerando os princípios elencados por Trebor Scholz em seu livro.
Rafael Zanatta: tradutor e comentarista do livro Cooperativismo de Plataforma no Brasil e prefaciador do livro A Cidade Inteligente, de Morozov e Bria, Zanatta é doutorando pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP e coordenador de pesquisa do Data Privacy Brasil. Foi um dos palestrantes da última conferência sobre cooperativismo de plataforma, em 2019, em que aponta desafios para uma agenda relacionada a temas como data trusts e data commons. Ele ainda escreveu uma matéria para o Outras Palavras contando alguns casos de cooperativas, como Up & Go, Park Slope Food Coop e Savvy Cooperative. Rafael também é autor do capítulo Economias do Compartilhamento: superando um problema conceitual e agora prepara-se para escrever um toolkit sobre cooperativismo de plataforma com foco no cenário brasileiro em parceria com outros pesquisadores como Mário de Conto e Rafael Grohmann.
Rafael Grohmann: professor do Mestrado e Doutorado em Comunicação da Unisinos, Grohmann coordena pesquisa sobre cooperativas de comunicadores e tem artigos publicados em revistas acadêmicas sobre contradições no cooperativismo de plataforma, organização do trabalho em cooperativas de jornalistas, especificamente, e de comunicadores no geral. Em entrevistas e observação no jornal Tiempo Argentino, os trabalhadores pediram para que os pesquisadores não romantizem experiências de cooperativas: “aqui não há príncipes e princesas”. Atualmente, por meio do Laboratório de Pesquisa DigiLabour, está em interlocuções com coletivos de entregadores no Brasil em relação ao cooperativismo de plataforma. Esteve recentemente falando sobre o tema – no contexto mais amplo do trabalho em plataformas – nos podcasts Pulso Latino e Observatorio de Plataformas.
Luciane Barzotto: professora de Direito na UFRGS e juíza do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, Barzotto também é integrante da pesquisa Cooperativas de Plataformas e Ambiente Jurídico, coordenada por Mário de Conto. Tem realizado pesquisas sobre cooperativismo de plataforma com Lucas Pasquali Vieira, juiz do Trabalho Substituto do TRT 11ª Região. Eles analisam como é possível resgatar valores como liberdade e fraternidade no cooperativismo, considerando que o objetivo maior das cooperativas digitais globais é promover a economia solidária. Luciana e Lucas publicaram o artigo Cooperativismo de Plataforma no Paradigma Cooperativo na revista da Escola Judicial do TRT4.
Josiane Caldas: doutoranda em Direito pela UFPR, Josiane pesquisa o cooperativismo de plataforma a partir da noção de utopia concreta. Sua tese, em desenvolvimento, pretende elaborar projeções econômicas e jurídicas da viabilidade de uma cooperativa de plataforma para os trabalhadores de plataformas, assim como roteiro para criação e gestão de uma cooperativa de plataforma. Seu texto já publicado sobre o assunto é O direito fundamental ao trabalho e os trabalhadores de plataformas: uma nova forma de resistência?, presente no livro Direito do Trabalho e Democracia, organizado por Sidnei Machado.
Camila Luconi Viana: mestre em Gestão e Negócios pela Unisinos, Camila fez trabalho de conclusão de curso de especialização sobre participação democrática em cooperativas de crédito em contextos digitais. A pesquisa destaca que o principal desafio para as cooperativas não é a tecnologia em si, mas as mudanças culturais necessárias para a participação dos sócios por meio da digitalização. Camila também integra a pesquisa Cooperativas de Plataformas e Ambiente Jurídico.
Além destes pesquisadores, destacamos o Coonecta, um hub do cooperativismo de plataforma no Brasil, sob o comando de Gustavo Mendes e Romário Ferreira.
Conhece mais algum pesquisador que tenha trabalhos publicados sobre o assunto? Manda pra gente!
[Foto: Co.Cada / @loyolajuliana ]